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O Interruptor

O mundo mudou pra caramba, não é verdade?
Tecnologia de ponta, comunicação  instantânea e "quase" sem barreiras, liberdade de expressão ....
Sociedades Feudais. Séculos IV ao XV
Principais características (sem aprofundamentos, ok?):
. Eram hierarquizadas (difícil uma pessoa passar de uma posição para outra) e estamentais (cada pessoa assumia um papel muito bem definido nessas sociedades, geralmente de acordo com o grupo em que nasceu);
. A posição e o status social eram determinados pelo nascimento e pelas propriedades, especialmente de terras;

. Havia uma grande disparidade de renda entre a camada mais rica e os mais pobres, culminando numa grande marca: a desigualdade social...

Gosto muito de observar pessoas e prestar atenção as suas conversas, gestos (ok, minha mãe tentou ensinar que isso era feio e blá, mas aos 36 acho que já sou responsável por desaprender) e faço isso quase sempre. No supermercado, na padaria e no ônibus e metrô encontro os meus principais "laboratórios" de observação de gente e suas mentes agentes.
Sem muita divagação, na boa, mudamos tão significativamente assim que não nos reconheçamos nos séculos da Idade das Trevas?
É bem verdade que todo o avanço científico nos deu outras possibilidades de acesso a cuidados tão básicos que até os desconsideramos - higiene sanitária, por exemplo. Há ainda os meios que nos aproximaram - as cartas, o telégrafo, os jornais, o rádio, o telefone, a televisão, a internet - e deixaram o mundo tão pequeno, tão disperso também o fizeram e por isso, agora nos vemos juntos e como água e óleo, sem nos misturarmos ao ponto da unidade.
A despeito de todo o louvável progresso da era pós-industrial e dos seus avassaladores caminhos possíveis (e suas indissociáveis desgraças), no fundo, corremos, como o cão, disparados atrás do rabo. Quando olhamos para dentro da nossa "organização social", permanecem lá, quase imutáveis, as nossas hierarquias e estamentos sociais, a nossa definição de pessoa a partir da sua origem - se antes senhor feudal, o nobre, o clérigo, o guerreiro, o proprietário das terras, da informação e poder politico e religioso, das armas para manutenção da ordem e defesa do bem privado (ainda que por nome coletivo) e o servo cumpridor de um dever histórico incontestável, hoje, proprietários de terras, de conglomerados de comunicação e esteios tecnológicos, senhores das armas modernas e dos cárceres privados, donos das artes e ciências que separam homens e homens e, empregados.
O interruptor de ontem é o mesmo hoje - EDUCAÇÃO - e continua imerso em mistério. Não é a força de um desliga e liga e que dando luz abre e fecha possibilidades de acesso a um novo mundo. Ele não é acionado por um clique permanecendo em atividade continuada, sem objeções. Seu mistério é um processo de enfrentamentos e oposição de forças e sua luz se mostra lentamente até que permita autonomia energética multiplicada.
Olhando assim, por um lado é claro que eu comemoro que os empregados desse país chamado Brasil tenham hoje possibilidade, ainda que a duríssimas penas, de concluir um ensino médio (quase sempre porco) e chegar à incrível marca de se tornar possuidor de um diploma de nível superior (que na prática não significa muito). Quando, porém, estou nos "meus laboratórios de observação de gente", não posso deixar de perceber que continuamos não segurando o interruptor acionado no sentido de transformar o acesso à educação, não essa das estatísticas superficiais, mas aquela a que ainda não chegamos - universal e de qualidade, com o poder de acionar o fio condutor da criticidade, não submissa às forças contrárias dos senhores feudais pós-modernos, que entenda progresso possível apenas via retrocesso da desigualdade social e acesso pleno de todos os homens a iguais oportunidades que permitam florescer vocações e o exercícios delas sem peso das cadeias hierárquicas e grilhões dos estamentos sociais.
É claro, sei o devaneio das minhas palavras, por isso as espalho na época em que mais aceitáveis possam ser: às vésperas de um novo ano, quando quase tudo é possível esperançar. E assim, vou esperançando que no novo ciclo que nos será dado sejamos capazes de contestar a nossa ordem feudal no mundo pós-moderno, que possamos quebrar - pelo mistério que ilumina os séculos - as hierarquias religiosas, de estado protetor ou usurpador, o senhorio escravizante do nosso tempo, as viseiras da desqualificação de gente. E vou esperançando que possamos ser a mão que acione a luz e ser a luz que visita a era das trevas, nossa senhora desde "a nossa descoberta", com o fim de sonharmos ser um todo mais respeitoso, generoso, a viver bem o presente e a esperançar o amanhã sem amarras tão desprezíveis como as que ora nos cativam.
Que sejamos capazes de considerar o interruptor para a mudança.
Que tenhamos disposição de ser a força que o aciona e o sustenta.

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