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Mais um dia triste para o Brasil.

Mais um dia triste para o Brasil.
Compreendo a sociedade como um todo e o seu insano apoio ao encarceramento dos adolescentes achando que isso resolverá a questão da segurança pública no país. Compreendo, por saber quão baixo é o nosso nível de educação cidadã e outras coisinhas mais e más. Não concordo.
Agora, ao fazer um recorte da sociedade considerando o povo que se declara cristão, em especial os evangélicos - grupo do qual confesso, me arrastando e ainda não sabendo como, faço parte, está aí uma pesada afronta à fé cristã. Incoerência, inconsistência, pregação evangélica vazia, espasmo de espiritualidade.
Na boa, sei que não serei compreendida e acho que já estou quase vencendo essa fase de querer ser compreendida, mas é cansativo isso, viu? Esse evangelho do desamor, da irresponsabilidade com o mundo e com o próximo, da confissão de fé apenas em palavras gritadas cada vez mais altas e abafadas com cada vez mais força e velocidade pela inconsistência de atos e a pratica cotidiana de gestos profanos. Esse evangelho da perfeição humana, maior mentira religiosa produzida, me enoja.
Quando, digam-me, a desumanidade que alardeamos pressuposto do evangelho encontra respaldo no Cristo?
Quando o Cristo ensurdeceria ante o grito do excluído?
Quando o Cristo emudeceria frente à necessidade da proclamação da justiça e a defesa do fraco, desvalido - em todas as categorias possíveis a tais palavras?
Quando o Cristo vedaria os olhos ou mesmo os desviaria da calamidade humana?
NUNCA.
NUNCA.

Esse cristo desumano e insano que dizemos ao mundo ser o nosso senhor. Não, não o quero.
Tambem não quero a prosperidade dessa "nova igreja brasileira"; não quero seus dons; não quero a sua autoridade. Prefiro ser relegada à condição de herege, desviada da vocação, que abriu mão do chamado.
Será?
Olha, eu juro que eu quero ser igreja, só me encontro em quase completo estado de incapacidade de compreender, afinal, o que é isso e como ser isso.
Dia triste para o evangelho quando pastores evangelicos comemoram a PEC 171. Lamentável.

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