Pular para o conteúdo principal

Ao povo, a cidade!

Não gosto da parada de 7 de setembro. Motivo? Por ser isso, uma parada militar. 

É bem possível que eu esteja falando mais uma bobagem? Sim, é possível - como quase tudo. A questão é que a minha antipatia se deve ao fato de esperar do Dia da Independência do meu país, uma festa popular, do tipo que se faz pelo ajuntamento voluntário de pessoas para uma celebração especial. E claro, não a desprezo de todo, reconheço que, pelo menos às crianças, ajuda no processo de aproximação quanto aos símbolos da pátria.

Apesar disso, o 7 de setembro tal qual o 21 de abril, para mim são datas muito especiais.

21 de abril é a data de aniversário da nossa linda Capital Federal e por essa data ainda é possível encontrarmos gramas verdinhas nas avenidas, jardins, na Esplanada, Eixo Monumental. Isso graças às últimas chuvas. 

7 de setembro é a data da nossa Independência, quando lá, "às margens do Ipiranga" deu-se o grito "Independência ou Morte". Ok, foi só para deixar um pouco mais denso rs! Aqui, diferente de abril, bem, as gramas estão sofríveis - quanto à aparência. Em compensação, apesar da seca que faz os moradores do DF prostrarem-se no meio da rua em agradecimento a uma chuvinha de duas gotas, temos uma das mais lindas expressões de cores e vida nas árvores da Capital. Roxas, brancas e as amarelas, ah...como ficam belas as nossas copas. A vontade diante delas é ficar em estado da mais absoluta contemplação e adoração.

Mas, há outro fato que me deixa muito feliz com essas duas datas: em ambas, Brasília fica tomada por sua gente. Gente branca, negra, pobre, rica, religiosa, sem credo, jovens, velhos e muitas, muitas crianças.

Duas festas em que o povo se apropria dos espaços públicos da sua cidade e isso, somando-se às peculiaridades das estações, fazem-nas ainda mais significativas.

Como disse  no começo, eu não gosto da parada do 7 de setembro. No tempo de criança fui algumas vezes às edições na minha pequena cidade no interior do Maranhão. Morando no Distrito Federal desde 1995, nunca fui ao Desfile de 7 de Setembro - embora quase sempre passe pela Esplanada logo depois que se encerre o desfile e já participei algumas vezes dos eventos comemorativos do aniversário da cidade. Hoje, mais uma vez, por obra do acaso, precisei passar pela Rodoviária do Plano Piloto, já por volta do meio-dia e, portanto, sem mais desfile logo à frente, na Esplanada, mas ainda com muita gente por lá. 

Muita gente na Torre de TV, na Feira da Torre, na Praça da Fonte, no Museu Nacional, na Esplanada dos Ministérios e na Rodoviária, claro. Aliás, da Rodoviária partia em andança fantástica pela plataforma superior em direção ao Teatro Nacional,  o Grupo Patubatê, num show simplesmente sensacional. Tambores que fazem tremer a alma, eletrificando-a a cada batida. Lindo.

Esse sim, um rascunho do 7 de setembro, o Dia da Independência que eu imagino, onde o povo é a celebridade da festa, o anfitrião e o protagonista. E ver a cidade tomada por sua gente, o que não se restringiu a esses espaços, me faz imaginar que se eu fosse capaz de olhar os meus próprios olhos, os veria brilhando de um modo diferente e com uma força especial.

Quando olho a nossa Brasília - Capital Federal, em 21 de abril ou em 7 de setembro, tomada por gente de todo o Distrito Federal, fico a sonhar que isso seja um pequeno manifesto daquilo que a Pátria Mãe Gentil espera de todos nós, brava gente brasileira: que nos apropriemos das nossas cidades em cada canto desse Brasil, "gigante pela própria natureza", e o tornemos independente, não pela mão pesada de um decreto negociado e cujas entrelinhas apenas sancionam a manutenção de privilégios de pequenos grupos. Mas que gritemos a independência estabelecida no cotidiano da construção democrática do poder do povo. Porque aquela, vinda de um decreto vertical não é independência, é apenas uma cortina de fumaça a ludibriar o povo, causar-lhes irritação à visão e por fim, dada a intensidade da submissão a algo tão nocivo, a perda pouco a pouco da capacidade de enxergar as coisas, até a cegueira total.

O Brasil tem dado importantes passos rumo a sua independência, mas vez por outra se vê assenhorado por filhos ingratos a desejar fazê-lo propriedade privada dos grupos que se fizeram seus donos desde a "sua descoberta" ou daqueles que descobriram os meandros do poder político e financeiro e nele buscam perpetuação em desfavor do povo e favor aos seus anseios particulares.

Já agora, sob o seu reluzente céu de anil, temos outra vez a oportunidade de fazermos a tomada das ruas das nossas cidades, não apenas um passeio de domingo, mas numa declaração de direitos e responsabilidades sobre elas, ato próprio de quem desperta à consciência de que é hora de amadurecer conceitos, desfazer-se de cadeias e melindres e partir para a independência, como um povo que merece mais do que lhe tem sido dado a custo da sua dignidade e liberdade.

Por um país justo e igualitário: ao povo, a cidade e, Brasil, "verás que um filho teu não foge à luta" e não descansa até que todos os seus irmãos sejam igualmente independentes e livres das amarras da miséria, das desigualdades sociais, dos abusos, das violências.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bereshit → Rosh = Cabeça!

Bereshit é a primeira palavra da Bíblia. Moises não escreveu Gênesis - ele não conhecia esta palavra. Ele escreveu Bereshit. Gênesis foi a tradução dada pela septuaginta (tradução grega da Bíblia), de onde vieram os nomes dos livros do chamado Pentateuco. Os 5 livros de Moises são conhecidos em Hebraico como os 5 quintos ,ou seja 1 inteiro. Cada um dos livros sugere uma parte de um todo e Bereshit a primeira delas. O nome dos livros da Bíblia em Hebraico é o nome da primeira palavra, por isso o nome de Gênesis que significa No principio. A raiz da palavra Bereshit é palavra Rosh que significa Cabeça! A primeira palavra da Bíblia - No Cabeca marca o principio de Deus. Para o homem o principio é o coração, para Deus é a cabeça, e Cristo é o cabeça da nova criação, e nós temos a mente de Cristo! A primeira palavra da Bíblia já fala de Cristo, o cabeça! Col.1:17-18 revela que Paulo sabia de tudo isso. Ele é antes de todas as coisas, Nele tudo subsiste, Ele é a cabeça do corp...

Democracia e representatividade: por que a anistia aos partidos políticos é um retrocesso

Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados, e só não foi provado hoje (2/maio) porque teve pedido de vistas, a PEC que prevê anistia aos partidos políticos por propaganda abusiva e irregularidades na distribuição do fundo eleitoral para mulheres e negros. E na ânsia pelo perdão do não cumprimento da lei, abraçam-se direita e esquerda, conservadores e progressistas. No Brasil, ainda que mulheres sejam mais que 52% da população, a sub-representação feminina na política institucional é a regra. São apenas 77 deputadas entre os 513 parlamentares (cerca de 15%). E no Senado, as mulheres ocupam apenas 13 das 81 cadeiras, correspondendo a 16% de representação. Levantamentos realizados pela Gênero e Número dão conta que apenas 12,6% das cadeiras nos executivos estaduais são ocupadas por mulheres. E nas assembleias legislativas e distrital esse percentual é de 16,4%. Quando avançamos para o recorte de raça, embora tenhamos percentual de eleitos um pouco mais elevado no nível federal, a ime...

Cultivando Cidadania

O triste é que quem toca a música das grandes marchas (essa, aquela e aquela outra) o fazem por nada mais que "agora eu quero a caneta do poder" e só. E vamos, saltitantes, todos marchantes a caminho do estádio para só mais um FLA x FLU de cartas marcadas pelo sangue dos corpos que caem nas favelas, especialmente do menino preto e, daquele índio, sem noves fora no balanço do campo; pelo suor que tempera no rosto e no coração do trabalhador, o desencanto; e vão, os nossos uivos  apressados, sem reflexão, abafando o grito de mais uma mulher que cai, e da outra menina que vai perder a inocência, vendida; e vamos, marchantes na ignorância que cega, rouba, decepa o empoderamento e degola o cidadão e o joga ao canto, ao chão. E a onda vai, vai e quebra nos muros da nossa disputa de verde e amarelo e vermelho e nada mais. Um jogo de um time só e a estrábica platéia vê dois, mas é só um. Só. Bandeiras de uma guerra que não existe. Punhos fechados. Gritos. Panelas....