É preciso olhar a vida para além das rusgas e feridas.
É preciso enxergar na terra batida e chão vermelho, uma nova chance, todo dia, não uma despedida.
Brasília, por aqui começo uma andança que pretendo levar adiante pelas próximas semanas. Ao que chamo de numa espécie de "flash" do Distrito Federal. O meu "flash", obviamente. Porque se esse quadrado me pertence e eu pertenço a ele, devo me esforçar para conhecê-lo. Então, cá estou, do alto de um dos principais símbolos dessa nossa Capital Federal, o Mirante da Torre de TV, no Eixo Monumental.
Creio que falar dos traços arquitetônicos dessa cidade - sinônimo de sonhos, é a redundância de pensamento de quase todos nós, sempre. Vou ficar, portanto, com os sonhos que ela inspira.
Começando quando ela ainda era papel, foram os sonhos de JK, a força que arregimentou brasileiros de todos os cantos, não necessariamente contagiados pelo vislumbre do Presidente, de construir a cidade de todos os brasileiros, mas talvez, foram reunidos rumo ao planalto central, pela força dos seus próprios sonhos em se afirmarem parte de um país gigante, que no seu gigantismo, por vezes, esquecia (e ainda esquece) os seus que não possuem outra energia para tornarem-se percebidos, se não o sonho de pertencer, no sentido mais amplo, ao solo que lhes gerou.
Fato é que vieram para cá, movidos por forças sobre-humanas e construíram a Capital, ainda que ela não os tenha, necessariamente, abraçado em suas instâncias de poder político local, embora o tenha feito na mística do "eu sou parte" e "vou escrever minha história aqui" - o que ocorre todos os dias, ainda hoje.
Foi assim, com a força desse nobre pátrio sonho, que a cidade se consolidou Capital real, em sua força, influência e referência, nem sempre - há que se admitir - da maneira como os de coração limpo sonharam para a cidade. É que, por aqui, desembarcaram outros sonhadores, picados antes pelo mosquito transmissor da megalomania "vou tomar a cidade para mim e fazê-la quintal de porcos interesses". Sonhadores que sonham só para si na sanha de fazerem seus o que a todos pertence. E aí, sangraram, sem misericórdia, a Cidade Capital. Macularam as esperanças da Cidade Capital. Fragilizaram os alicerces do orgulho e pertencimento da Cidade Capital e a puseram em agonia.
Ela se arrasta. Ainda tem vida. Mas precisa - hoje e agora, considerar que a sua sobrevivência e restabelecimento pleno na trajetória de Capital real, referência na terra Brasil, está em determinar-se a fazer ressurgirem as forças que mobilizaram seus antigos sonhadores em energia capaz de contagiar as novas gerações com o mesmo espírito de pertencimento e convicção de que é possível suscitar à Brasília, vida pulsante do seu solo seco. Do contrário, condena-se, por desistência da esperança, a cidade de todos nós - nascidos aqui ou não - aos ladrões de sonhos e assassinos de esperança.
Se amamos Brasília, como muitas vezes batemos no peito e declaramos, vamos regá-la a partir da límpida fonte da esperança que ainda subsiste em nós e da exuberância da força de luta que sobrevive em nosso peito, para entregá-la aos seus donos, o povo do Distrito Federal.
Que seja assim, porque é preciso olhar a vida para além das rusgas e feridas e também enxergar na terra batida e chão vermelho, uma nova chance, todo dia, não uma despedida.
Não percamos de vista a certeza de que - se cuidamos - logo e sempre virá a temporada da grama verdejante, das flores e frutos que lá longe no horizonte, o nosso pôr-do-sol, todos os dias insiste em nos lembrar disso.
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