Pular para o conteúdo principal

Do chão, na lama, no pó!

Quero sentar no chão, na lama, no pó que sou e para onde voltarei num dia qualquer desconhecido, e perceber a minha insignificância.

E no chão quero cavar profundas valas para o alicerce daqueles valores que não se subvertem sob a pressão do tempo, que desqualificam a retórica e preenchem a alma de significado em solidariedade e generosidade por ações a extrapolar os limites da compreensão humana.

Da lama e do pó, em uma mistura inusitada, quero me tornar material na mão do escultor da vida, a fim de que Ele transforme a minha essência frágil e sem sentido e me molde conforme o seu propósito à fração de humanidade a qual devo servir.

Do chão quero emergir, sem dele me desligar, para ter o próximo sempre igual a mim, numa percepção clara e suficiente a me provar, todo dia e em todo o tempo: é no próximo que eu melhor posso me enxergar, e é essa conjunção e relação que faz o dia se renovar.

E assim, do chão, na lama e no pó, sob a cobertura do céu anil, manifesta nas nuvens distantes, na imensa escuridão da noite, ou nos mais ínfimos detalhes da vida, quero me submeter ao único capaz de dar significado ao pó, modelando a minha existência para que em algum momento dessa breve passagem ou  no além, eu saiba: o sopro agiu em mim e vivi um quê da essência dEle, o amor.

"Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez."
(João, capítulo 1 verso 3)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Democracia e representatividade: por que a anistia aos partidos políticos é um retrocesso

Tramita a passos largos na Câmara dos Deputados, e só não foi provado hoje (2/maio) porque teve pedido de vistas, a PEC que prevê anistia aos partidos políticos por propaganda abusiva e irregularidades na distribuição do fundo eleitoral para mulheres e negros. E na ânsia pelo perdão do não cumprimento da lei, abraçam-se direita e esquerda, conservadores e progressistas. No Brasil, ainda que mulheres sejam mais que 52% da população, a sub-representação feminina na política institucional é a regra. São apenas 77 deputadas entre os 513 parlamentares (cerca de 15%). E no Senado, as mulheres ocupam apenas 13 das 81 cadeiras, correspondendo a 16% de representação. Levantamentos realizados pela Gênero e Número dão conta que apenas 12,6% das cadeiras nos executivos estaduais são ocupadas por mulheres. E nas assembleias legislativas e distrital esse percentual é de 16,4%. Quando avançamos para o recorte de raça, embora tenhamos percentual de eleitos um pouco mais elevado no nível federal, a ime...

Narrativas. Vida. Caos. Desesperança.

  Quando eu era pastora repetia com muita frequência, aos membros da igreja, sobre a necessidade de submeterem o que ouviam de mim ao crivo do Evangelho, aprendi isso com o bispo Douglas e com o Paulo, o apóstolo rabugento (e por vezes preconceituoso), mas também zeloso com a missão cristã assumida. Outra coisa que eu repetia era que as pessoas só conseguiriam se desenvolver se exercitassem a capacidade de pensar. Nunca acreditei num Deus que aprecia obediência cega, seres incapazes de fazer perguntas. E cada vez mais falo a Deus que se ele não conseguir se relacionar com as minhas dúvidas, meus questionamentos, as tensões do meus dilemas e mesmo cada um dos incontáveis momentos em que duvido até dele, então ele não é Deus. Será apenas um pequeno fantasma das minhas invencionices mentais, portanto, irreal. E por que isso aqui da gaveta das minhas convicções e incertezas? Assim? A nossa História é basicamente um amontoado de narrativas. Ora elas nos embalam na noite escura e fria. O...

Reforma?

Daqui 11 dias celebraremos 505 anos da reforma protestante.  Naquele 31 de outubro de 1517 dava-se início ao movimento reformista, que dentre seus legados está a separação de Estado e Igreja. É legado da reforma também o ensino sobre o sacerdócio de todos os santos, na busca por resgatar alguns princípios basilares da fé cristã, que se tinham perdido na promíscua relação do poder religioso com o poder político. E, co mo basicamente todo movimento humano de ruptura, a reforma tem muitas motivações e violência de natureza variada. No fim, sim, a reforma tem sido muito positiva social, política, economicamente e nos conferiu uma necessária liberdade de culto.  Mas, nós cristãos protestantes/evangélicos, teremos o que celebrar dia 31?  Restará em nossas memórias algum registro dos legados da reforma? Quando a igreja coloca de lado seu papel de comunidade de fé, que acolhe e cura pessoas e passa a disputar o poder temporal, misturar-se à autoridade institucional da política, e...