Há dezenas de lugares incríveis em Brasília.
A vista daqui, é certamente a mais conhecida de todos, e é o meu preferido na nossa capital.
Quando fiz a foto, estava na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto, e sempre que passo por ali, se não estou prestes a perder o busão, faço questão de ficar por alguns minutos...observando, observando, observando, refletindo.
Não. Não há nada de belo por aqui (ali).
Do meu lado, crianças cheiram cola e pior, se destroem no crack, homens e mulheres zumbis perambulam, prisioneiros de vícios, acorrentados à desgraça que esbarra em todos, mas continua invisível.
Sob os meus pés, um dos mais tristes retratos da condição indigna a que são submetidos, diariamente, os trabalhadores da Capital Federal - o brutal e desumanizador sistema público de transporte do Distrito Federal, prevalência de lucro a qualquer custo, mesmo o de solapar o simples direito de dignidade na locomoção pela cidade construída com a semeadura das melhores forças de cada um desses homens e mulheres que se lançam ao desafio da sobrevivência na cidade insana.
Ao longe, à esquerda, o Teatro Nacional e à direita, a Biblioteca Pública e o Museu Nacional, inacessíveis à maioria dos habitantes desse imponente quadradinho no meio de cerrado brasileiro.
E seguem, de cada lado, os Ministérios e lá no fundo, as nossas mais importantes Casas Públicas, bem distantes da miséria sob os meus pés. Obviamente, amigos, não gosto de miséria. Mas, por que gosto daqui?
Porque esse lugar me lembra do quão distantes estamos da verdadeira democracia. Aliás, ele é um retrato perfeito disso. Daqui percebo: temos tudo e não temos nada. Sobretudo, porém, esse lugar me lembra, e mais, me cobra investir o melhor de mim (um pequeno esforço, frente ao desafio) para que um dia, numa geração futura, essa distância não exista e o nosso país se pareça mais, em princípios e valores praticados, com o estabelecido no reino de justiça e paz, no qual acredito.
Eu amo o meu país. Tenho muito orgulho de ser brasileira, nordestina e também de morar aqui, no Distrito Federal, na Capital da República Federativa do Brasil, nessa cidade tão incompreendida por quem não é daqui, tão injustiçada Brasil afora, por causa dessa distância entre a nossa miséria brasileira e o ordenamento de poder a partir daqui estabelecido.
Agora, sabe a quem cabe reduzir essa distância de trazer as esferas representativas para perto da miséria que nos mina? Muito bem, é isso mesmo. A responsabilidade é nossa, pois o poder somos nós.
O caminho? Talvez comece por entendermos que a esplanada é nossa, seja aqui em Brasília ou no rincão mais distante daqui. A esplanada é do povo e apropriarmo-nos dela, é bem possível que nos conduza à descoberta desse grande mistério, a democracia plena, o poder que vem do povo e por ele é exercido.
#EuAmoBrasília, apesar de suas distâncias e #AmoOBrasil, apesar de suas misérias. #OrgulhoDeSerBrasileira.
Ocupemos as esplanadas brasileiras, pois!
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