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Há dias que parecem noites


Há dias que parecem noites

Quando as nuvens negras lá ao longe
Se personificam em braços que nos envolvem e maõs que nos apalpam
Bem aqui perto e dentro de nós
E elas parecem se transformar no nosso teto
Cobrem a nossa mente e nos impedem de ver o sol
Tão densas, imensas, intensas
E elas se transformam, assim, de repente, em tempestades
Avassaladoras, imprevisíveis, incontíveis 
Feras indomadas e perturbadoras

Não há raios de sol, ou sequer fachos de luz
Só há trevas e medo
Há culpa e solidão, apesar da multidão
Há paralisia ou movimentos vãos, sem destinos, sem caminhos, sem razão

Há dias que parecem noites
Intermináveis
De sufocantes pesadelos
É quando a alma é acorrentada ao passado
É quando a alma tem os olhos perfurados
E a dor a impede de esperançar o futuro
É quando a alma se perde na nuvem da sua longa escuridão

Mas, mesmo nos dias que parecem noites
É preciso recobrar à alma a calma de que o parecer é dissipável pela verdade do que é
E os dias, por mais escuros, são dias, não são noites.

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