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As Cartas da Minha Vida

Eu gosto da letra, das palavras, das frases, dos textos, suas formas e significados. As palavras sempre foram um paradoxo para mim, em que consigo ver mistérios e nestes mesmos, nítidas revelações, que de outro modo não seriam percebidas. Eu amo tanto as palavras e os seus significados, que sim, talvez um dia eu consiga escrever um livro.

E porque eu amo tanto assim, as palavras? Não sei ao certo, mas suspeito que tenha a ver com o fato de que desde muito pequena, essa era a melhor expressão de mim. Eu era muito tímida (porque hoje sou apenas tímida) rs e ainda muito menina, eu vivia conflitos muito intensos, dos quais eu não podia ou tinha com quem falar e ai, sobraram-me o papel, a caneta, as palavras e, então, eu escrevia muitas cartas.

Lembro-me que no começo dos anos 90, morávamos em uma cidadezinha no interior do Maranhão, chamada Alto Alegre e havia, na frente dessa casa um jardim e uma planta trepadeira que não me lembro o nome, mas ela formava uma copa tão grande que deixava uma espécie de arranjo, como se fosse um telhado de uns 3 metros quadrados e sob a tal copa, havia alguns bancos e lá os amigos ficavam a bater papo ou nós, as crianças, à época, brincávamos.

Pois bem,
como disse, eu escrevia muitas cartas, os temas eram as minhas angústias de menina, meus sonhos que nasciam direto dos livros que eu devorava e, dos dilemas que uma menina como eu não precisava, nem devia viver. E lá, naquelas folhas brancas, eu depositava a minha a alma e a desenhava em palavras, em histórias, expressões de mim, mas elas não tinham destinatário e eu as amassava e jogava sobre a tal copa e outras vezes, eu as comia. Isso mesmo, eu comia algumas das minhas cartas, pois dava-me conta que se as lançasse sobre a copa à frente da minha casa, o vento poderia derrubá-las e ai, havia certas histórias, que embora eu precisasse que alguém as lesse, eu não poderia deixar que isso acontecesse. E ai, as expressões de mim,  postas naquelas cartas, voltavam para o lugar de onde tinham saído, para dentro de mim.

Eram tristes, na maioria das vezes, aquelas cartas e depois daquele tempo, eu já escrevi muitas coisas. Algumas vezes, o que chamo de versos. Outras, algumas histórias. Em todo caso, nunca houve destinatário certo para essas "cartas". Já escrevi cartas até para Deus (e foram muitas) de igual forma não enviadas, por motivos óbvios. Neste caso, pelo menos havia um destinatário certo.

E agora, depois de tantos anos e tanta água sob a ponte e sem copa na qual jogar as minhas cartas, vejo-me outra vez a escrevê-las. Entretanto, dessa vez, elas expressam outro lado de mim. Não apenas os versos das angústias da minha alma, que ainda as coloco no papel (hoje, virtual). Não apenas apenas os medos e revoltas dos acontecimentos que observo e às vezes, até construo. Não apenas os sonhos e as expectativas que não consigo guardar em mim. É mais que isso. 

As Cartas da Minha Vida, hoje, são um retrato muito mais completo de mim e os seus traços expressam cores diversas, não somente as escuras de antes. 

As Cartas da Minha Vida, hoje, tem lágrimas que borram as letras e só as deixam compreensíveis aos que querem o desafio de me conhecer e conviver comigo.

As Cartas da Minha Vida, hoje, tem risos e gargalhadas que dão formas diferentes às letras e atrapalham a leitura, requerendo assim, mais atenção.

As Cartas da Minha Vida, hoje, tem cores, muitas cores, na melhor expressão da esperança e dos sonhos que saltam em mim, como um grandioso e viçoso jardim, intocável e perceptível apenas aos sensíveis.

As Cartas da Minha Vida, hoje, tem um revisor e destinatários (um em especial). Meu Pai as revisa, e algumas vezes, tenho dúvidas se as aprova. E os destinatários das Cartas da Minha Vida, são estranhos a quem distribuo minhas palavras e um alguém, que lê a minha alma e diz compreendê-la, mas eu ainda não sei se assim é ou deve (ainda)

O fato é que, comecei 2013 escrevendo uma carta por dia (algumas publicadas, muitas outras não), e há 60 dias para terminar 2013, me vejo tomada pelas diversas formas e cores das Cartas da Minha Vida e isso mais tão mais alegre, diferente de quando comecei escrever.

Há muitas Cartas na Minha Vida. Quem as lerá?

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