Cantamos a misericórdia de Deus e brandamos a nossa necessidade de ser por ela alcançados. Damos ênfase ao quatro cantos da terra do quão misericordioso é o Senhor, mas nos esquecemos que Ele nos instrui a que sejamos tal qual Ele é, e esquecemos que aos misericordiosos, a recompensa é a misericórdia.
Mas, em termos objetivos, será que ao menos nos permitimos conhecer o significado dessa palavra, para que, ai sim, ela passe a ser um norte na nossa vida, um fruto vivo do que o Senhor tem produzido em nós?
Quando buscamos nas Escrituras, a palavra hebraica, no Antigo Testamento, que mais designa misericórdia é Hesed, e se apresenta com dois significados: primeiro no sentido de "cumprir algo pelo que foi feito um acordo", ou ainda, "dar ao outro aquilo que lhe é devido em razão de um tratado previamente estabelecido". Entretanto, o segundo sentido diz respeito a "ato gratuito e espontâneo de bondade e amor". Assim, misericórdia vem a representar aquela vontade incontestável de doar tudo de si, num movimento pleno de generosidade, no qual não há espaços para qual barreira ou acepção de pessoas. É a compaixão na sua mais nítida concepção.
Bem, o fato é que no contexto bíblico, "Hesed" aparecendo traduzida por amor e também por bondade, benevolência e misericórdia, está normalmente associada a Aliança. Sendo a misericórdia originada no Senhor, é portanto, uma manifestação em nós, fruto de uma aliança. De modo, que se não estamos em aliança com o Pai, as marcas de misericórdia que carregaremos ou faremos expressas em nossos atos, serão baseadas em uma relação legalista, por uma compreensão de que o Evangelho me obriga andar na direção do outro porque devo cumprir uma ordem e ciclo do que me alcançou. Isso pode até parecer perfeito, se nos esquecermos o que João diz sobre o amor, que sendo ele verdadeiro, "lança fora todo o medo". E ai, se já não há medo, o que passa a nos habitar é o Espírito que nos move, em liberdade pela renúncia de nós ao Senhor, à prática da misericórdia gratuitamente, sem a forçosa mentalidade de obrigação legal, mas com consciência plena de obrigação por amor.
E o resultado? Ah, é viver a liberdade de usufruir da misericórdia do Senhor sem o peso de favor, mas com o peso do amor que nos constrange à busca por Sua semelhança, em que a relação com o outro é o inexplicável amor cristão, como diz a banda Tanlan ... "O amor mais louco do mundo, dá atenção a quem não presta, sorri pra quem a maioria detesta, perdoa quando nada mais resta. O amor mais louco do mundo diz sim quando devia dizer não, que ao invés de fugir, estende a mão. Este amor me faz novo a cada manhã...que abraça que mnão merece; que espera quem não quer voltar; que escuta quem já se calou e luta por quem já se cansou...".
Então, que a compreensão e entrega a esse amor nos mova à incansável saga de viver e praticar a misericórdia. Que vivamos por aquilo pelo que também fomos alcançados, pois "nas misericórdias do Senhor estão as razões de não sermos consumidos", e que o Espírito nos molde e nos ensine todas as coisas e nos faça entender que os holocausto nada valem sem amor e compaixão. E que o maior ato de misericórdia já praticado, seja a nossa referência de vida plena.
Até breve.
Ádila Lopes
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