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Não sei nada a respeito da Bíblia, essa é a verdade!

A cada dia tenho descoberto que eu, na verdade, ainda não sei o real significado de amor, de desprendimento, de fazer o bem sem esperar nada em troca.

Sabe, já fiz muitas coisas no contexto de comunidade cristã (e quando as fiz, o que me movia a fazê-las era o desejo de construir para Deus. Pelo menos, era assim que eu pensava). Entretanto, tenho descoberto que no fundo não era isso que eu fazia. Eu apenas cumpria tarefas de uma instituição e nisso, tudo o que eu realizava era para fazer gerar reconhecimento aquela instituição.

Não quero aqui jogar pedras a uma instituição em si ou trazer juízo sobre ela ou outras mais, embora discorde de suas práticas. Na verdade, sinceramente creio que tudo aquilo  foi um processo pelo qual eu precisava passar, ou seja, que no fundo me foi útil para que hoje eu ceda espaço ao Espírito Santo e me tornar sensível a um modo macro de ver o reino de Deus e a aplicação da Palavra da Verdade no nosso contexto de vida e ações. E aí, na verdade, na verdade, a constatação a que chego é que no fundo, eu não sei nada a respeito de Deus, não sei nada a respeito de amor, não sei nada a respeito de servidão, não sei nada a respeito de relacionamentos e não sei nada, absolutamente nada, a respeito da Bíblia (pois saber sobre ela abre um leque para saber sobre as demais coisas e saber sobre ela não é conhecer sua organização, livros e personagens e história. Mas aplicar seus princípios).

A questão toda é que é complicado nos depararmos com a realidade das nossas ações e ver o quão distintas estão da Escritura no sentido de que, por exemplo, a prática de ações cristãs é desprovida interesses, e não é assim que fazemos, pois se fazemos um bem sempre esperamos algo em troca, talvez um reconhecimento da liderança da nossa comunidade, ou até que aquela pessoa a quem fizemos o bem, reaja positivamente (segundo os nossos parâmetros) ao que lhe foi feito e assim, nos vemos recompensados.

A verdade é que isso não é coerente, e nos é difícil aceitar dessa maneira, porque temos o defeito de desejar impor o nosso entendimento sem passá-lo pelo crivo do Evangelho.

Quanto a mim, talvez leve o resto dos meus dias tentando entender o amor cristão, o que é e como vivê-lo, mas uma coisa é certa: é preciso aprender a fazer o bem (clichê tão conhecido) e não esperar nada em troca, afinal, o que poderá um morador de rua, cadeirante, com doença degenerativa, totalmente podre no seu físico (e caráter) e, literalmente, desmanchando-se, o que poderá dar-me essa criatura? Mesmo ser que já não tem família e a quem a sociedade se esforça por vê-lo no fim dos seus dias, pois ele é um peso de trabalho sem resultado frente a outros a serem atendidos, uma vez que na primeira oportunidade o que esse desejará é a rua e os seus vícios! Então, melhor não vê-lo, não tratá-lo (não tem jeito mesmo), melhor facilitar sua fuga ao seu refúgio sob o céu.

Sim, este é apenas um de muitos relatos que me tem constrangido (e desta palavra tenho aprendido o significado por meio de muitas lágrimas, nos últimos tempos). E, poxa, talvez esteja ai a "dica" para eu aprender o que é amor, já que a Bíblia diz que o amor de Cristo nos constrange. Pois que loucura, aquele que sendo perfeito deixou-se matar por causa de outros que o queriam mal, sendo eles completamente imperfeitos. E Ele assim se submeteu à condenação, por idólatras, violentos, avarentos, mentirosos, caluniadores, ladrões, homicidas, estupradores, corruptos, maldizentes, prostitutos, adúlteros, hipócritas, enganadores, preguiçosos e portadores de tantos outros vícios. Isso é constrangedor!

Mas, e eu que não pratico um daqueles chamados pecados que carregam peso visível de condenação (embora toda e qualquer sorte de pecado condene)? 


Ah! Eu não me diferencio em nada do viciado que vive na rua, por exemplo. Apenas tive o privilégio (talvez seja isso) de ter força interior e não entregar aos meus monstros interiores e estou aqui na minha "sanidade humana" (possuindo outros atributos condenáveis, porém aceitáveis), mas talvez entorpecida na minha compreensão espiritual e por isso, quem sabe, num estágio igual ou pior ao daquele que se entregou aos vícios (condenáveis) da perversa natureza humana, pois estando em condições de fazer o bem e operar em amor e praticar atos de justiça pelo reino, mergulho nas minhas contestações de doutrinas e as faço mais importantes que a prática da forma de vida cristã que eu digo possuir.

Sou condenável ao não dispor minha vida ao serviço.
Sou condenável ao tomar conhecimento de fatos bíblicos e não torná-los atos diários da minha trajetória.
Sou condenável ao me eximir das minhas responsabilidades cristãs e tornar muito mais importante a defesa da minha posição e ponto de vista, quando à minha vista (embora eu não veja) caem os meus irmãos, aqueles pelos quais o Cristo também morreu e eu  não me movo para acudi-los, podendo fazê-lo.
Sou condenável por ser pecadora mergulhada no pecado, essa é a minha natureza.

... Mas o amor de Cristo nos constrange ... e esse amor, acho que estou no caminho de aprender o que é e só peço "Pai, livra-me do meu egoísmo...dá-me força para vencer esse monstro, pois é ele quem me cega ou opera em mim um distúrbio de visão tal em que eu apenas enxergo a mim".

Que constrangida por Teu amor, Cristo, eu entregue a minha vida a Ti e nessa entrega, aprenda a me mover pelo Reino.

Que eu aprenda a respeito da Bíblia, não apenas com a leitura, mas com a prática dos seus ensinamentos. Amém!

Até breve,

Ádila Lopes

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