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O balaio dos proibidos

A convivência minimamente respeitosa, ainda que o ideal fosse harmoniosa, na diversidade e espaço de oposição de ideias, tem se tornado exercício para poucos, dada a nossa sina e preferência autoritária que nos faz incapazes de ver, ouvir e falar para além de nós mesmos e, nos coloca no estranho dos mais estranhos movimentos: de reduzirmos o "mundo, vasto mundo" ao quintal dos nossos pensamentos, construído em palafitas sobre os nossos esgotos emocionais.

São muitos os balaios que criamos em decorrência disso, destaco um: O BALAIO DOS PROIBIDOS.

Numa embalagem, que enfeitamos com a nossa melhor retórica, colocamos não só os que pensam diferente de nós, vamos mais fundo, escolhemos os atrevidos que ousam dizê-lo, pois, ora, que afronta!  Não bastasse o outro, humano livre e diferente de mim, por natureza, divergir do que eu me torno e expresso, como ele (o outro) ainda pode querer dizer que pensa e escolhe ir noutra direção de agir e expressar o seu pensamento e modo de construir relações e conexões de mundos?

Que tolos nos temos feito, pois, rica, profunda e poderosa é a experiência humana construída sobre o respeito à divergência e à valorização da diversidade - de pensar, agir, fazer, como pedras que se chocam e moldam novas formas arrancando suspiros, de dor muitas vezes, mas também no mais significativo louvor à criação nova, desafiando olhares, corpos, mentes e a ciência humana.

Que tédio a homogeneidade do silenciamento, do autoritarismo, da régua medíocre do pensamento ensimesmado!

Posto na embalagem, ao balaio dos proibidos, resta fotocopiá-lo para uma maciça distribuição, às escuras (ou nem tanto assim), no embalo do mantra "não nos serve", "não nos honra", "não nos soma".

Pergunto:
  • Que soma há na obediência não refletida, da não escolha por consciência, mas ação de conveniência?
  • Que honra há no personalismo que desmonta o poder da diversidade, a base mais sólida e profunda de qualquer coletividade que se pense para além de si mesma?
  • Que serviço subsiste na anulação do outro, senão escravidão?
A saúde dos nossos ambientes não existirá se não formos capazes de nos desafiar a encarar tais embalagens, nas quais coloraram (ou colocamos) o balaio dos proibidos, abrindo-as a fim de podermos olhar, sentir e ouvir as razões dos proibidos, considerando isso como diagnóstico necessário, ou o câncer maldito da homogeneidade por decreto engolirá, de vez, a unicidade por propósitos, valores e ideais,  e nos faremos apenas trapos, lixo absolutamente desprezado, desprezível.

Que tal olharmos o que temos nas mãos, agora?

Será que não estamos nos fazendo portadores da malévola distribuição do balaio dos proibidos, em inocente ação e motivo que desconhecemos porque temos medo de simplesmente dizer, não?

No mundo dos iguais insistirei na luta ao direito dos diferentes, dos divergentes, dos diversos, esses todos que se dispõem ao exercício de unidade por propósitos, valores e ideais do bem comum e desafiam os decretos à obediência tácita.

A diversidade me engradece e a quero no meu mundo! 

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